quinta-feira, 28 de maio de 2009

O Silêncio de Deus.

Perambulei madrugada à dentro. Escuridão e caminhos desertos fundiam-se com sentimentos abstratos e enchiam minha cabeça... O som dos meus passos lentos, da minha respiração, e as batidas do meu coração eram audíveis. Senti ao longe o suave perfume que a Dama-da-noite exalava pros solitários, leve brisa... SENTIDOS AGUÇADOS... A lua flutuava em um imenso manto negro cravejado de brilhantes, reinava absoluta! Indefinia meus pensamentos e provocava-me alucinações...
Absorto, súbitos devaneios furtaram-me a lucidez. Mirei a lua que muitos olharam através das eras sem saber o que buscavam... Almejei sensações incertas, tentei atingir o universo... LAMPEJOS... Queria flutuar nos próprios sonhos...
Tu estás aí? Porque não responde? Quantas dúvidas... Um dia me disseram que Deus é infinito... Eu não o vejo, eu não o escuto! Já achei tê-lo sentido, teriam sido impressões? Silêncio que maltrata, culpas que dilaceram, ânsia de respostas, lânguido me sentia... Retorno a memórias passadas numa caverna escura onde medo não havia, apenas paz, uma estranha paz...
Era a luta pra manter alguns sonhos INCÓLUMES, é a incerteza das batalhas futuras pelos lapsos que marcaram o passado...
Como então prosseguir?
Sem perceber invado os espaços do meu leito, e confuso percebo os objetos da minha rotina. Eles trazem- me à luz da realidade... Queria eu vivenciar FÁBULAS? Talvez... Tendo somente o SILÊNCIO DE DEUS a única certeza latente é de que possuo o agora para tentar tornar tudo melhor... Só o agora... AGORA.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Na Fonte da Satú...


O caminho pedregoso era longo, porém o sobe e desce do terreno acidentado não impedia a tomada de um banho refrescante, a lavagem de uma trouxa de roupas ou que uma bacia de louças fosse lavada. Atravessávamos o quintal da Evanda onde as mangueiras sobreavam parte do trajeto, ás vezes dava pra encontrar uma “manguita” bem madurinha. Cheiro de mato, som de águas, pássaros cantando...Olhem lá, é a fonte da Satú....
Na fonte da Satú tinha cachoeira, tinha mulher lavando roupa, crianças banhando sem roupa...vida natural....Fofoca entre as lavadeiras, risos frouxos...
_ “Cumadi”, hoje tem missa, todos vão...Põe roupa bonita porque depois da pracinha nós vamos ao circo, tá arranchado la encima perto do campo! Você viu os palhaços anunciando o espetáculo na rua com a meninada correndo atrás? _ “Minina” já tem mãe com medo, moça nova adora fugir com os homens do circo, e se o galo cantar durante o dia então, é coisa certa...
_ Pois “avia” que já tá “truvando”...
Creio em Deus Pai, Salve Rainha, Pai Nosso! Na celebração rostos conhecidos: Luzia, Dona Satú, Deuzélia nunca faltam...Carolas referências de caridade...
Casas simples, ruas empoeirdas. A vida segue lenta e tranquila, todos se conhecem. Acordar cedo, cheiro de café fresco, leite quente, beju, cuscuz de arroz com azeite de côco, farofa, a boca enche de água...Ir à escola, jogar bola no final da tarde, andar na rua e desejar bom dia pra todos, afinal gente metida não é bem vista...Quem falou que lugar pequeno não tem o que fazer? Pescaria, apanhar buriti no brejo, tudo é novidade e motivo pra falação. A sensação é de que os dias param no tempo... Inverdade! A vida é digerida com lentidão, cada momento vivido à exaustão...O tempo não escraviza, ele te faz ver que precisamos dos outros pra viver, só isso...
Tudo mudou, a fonte da Satú está secando...Rostos desconhecidos, portas trancadas, televisões tomando o lugar das rodas de conversa... Os mais sábios estão partindo e com eles pedaços da história...A vida se abre no horizonte e me vejo cada vez mais parecido com os “velhos”. No espelho vejo os sinais do tempo moldarem meu rosto... Semelhanças! Percebo que“Nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não”...
O mundo segue seu curso e as pessoas reescrevem a existência... Eu fecho os olhos e ainda me vejo menino nu, mergulhando na fonte da Satú. Ainda sinto o cheiro das coisas, o som das águas. Cheiro de segurança, som familiar que traz calma ao coração, que traz felicidade... Um agradecimento: Obrigado Deus, pelas pessoas, pelas vivências e sensações. Obrigado por te participado disto. Fica a saudade e a certeza de que as boas lembranças não se perdem no espaço...